6. Comunidades: a plataforma

VAMOS PENSAR JUNTOS UMA NOVA BIBLIOTECONOMIA?

  1. A Primavera Árabe: Espere o excepcional
  2. O argumento para melhores bibliotecas: aumentar o impacto
  3. A missão das bibliotecas: muito mais que livros
  4. Facilitando a criação de conhecimento
  5. Melhorar a sociedade: acredite!
  6. Comunidades: a plataforma
  7. Bibliotecários: trabalhem com brilhantismo
  8. Plano de Ação: Acredite Mais

Você já deve ter percebido que uso a palavra “comunidade” em um sentido bastante amplo. Não restrinjo a palavra a um determinado público ou espaço geográfico. Comunidades são grupos de pessoas que possuem alguma variável em comum. Esta variável pode ser o local onde vivem, a escola onde estudam, a organização onde trabalham e por aí vai. Em todos estes casos, entendemos que todos os membros dessa comunidade tem conhecimento desta variável em comum.

Note também que você não se restringe a somente uma comunidade: você estuda, você trabalha, tem a sua família. Nem todas estas comunidades precisam de bibliotecas e naquelas em que precisam, a biblioteca torna-se parte dela, fazendo com que esperamos que ela tenha a sua própria voz.

Comunidades tem aspirações e sonhos. A biblioteca pode ajudar a realizar estes sonhos. Comunidades também se deparam com problemas e desafios e a biblioteca também deve estar lá para ajudar.

Sabemos também de algumas coisas que as comunidades devem esperar de suas bibliotecas. Elas devem ser espaços para criação e compartilhamento de conhecimento, não somente um espaço cheio de livros. Sabemos que a função de uma biblioteca deve transcender as quatro paredes. As comunidades devem acreditar que as bibliotecas podem cada vez mais criar serviços que as motivem. Significa que os estudantes podem acessar serviços da biblioteca estando em casa, que colaboradores de uma empresa podem acessar a biblioteca a partir de seus smartphones, que os cidadãos podem interagir com a biblioteca pública na própria web .

Biblioteca como plataforma

A nova visão da biblioteca não é um local ou uma coleção de livros, mas uma plataforma para que a comunidade crie e compartilhe conhecimento. Isso é mais do que uma mudança teórica. Traz reais implicações de como as bibliotecas se organizam e como usam a tecnologia. Vejamos alguns exemplos a seguir.

Perfis da comunidade Polaris

Polaris é uma companhia que desenvolve software para biblioteca. Eles criam o que as bibliotecas chamam de Sistemas Integrados de Bibliotecas, ou SIB. O software permite aos bibliotecários catalogar novos materiais, organizá-los pelas estantes e registrar empréstimos. Na sua essência, nada mais é que um sistema de controle de estoque.

O Polaris percebe que as bibliotecas estão mudando e precisa acompanhar estas mudanças. Assim, eles criaram um sistema para alimentar com informações sobre o perfil da comunidade da biblioteca. O intuito também era o de adicionar informações (contato, atendimento…) de várias organizações. Quando alguém procurasse um livro no catálogo sobre alfabetização de adultos, viria informações sobre escolas com vagas abertas para este público também.

A Polaris foi além e deu mais um passo, possibilitando que as próprias organizações adicionassem suas informações, tornando-se responsáveis por sempre atualizá-las quando necessário. Elas podem criar e expandir a sua presença digital na web com o auxílio da própria biblioteca, construindo parcerias de produtos e serviços.

O sistema da Polaris se tornou uma plataforma que permite a comunidade compartilhar e descobrir serviços, além de engajar as próprias atividades de seus indivíduos. Qualquer atividade que qualquer indivíduo da comunidade venha a realizar, pode ser compartilhado pela biblioteca através deste sistema.

Imagine se organizações locais utilizassem este sistema para criar cursos, que tanto teriam recursos multimídia de ensino a distância, como o suporte das bibliotecas. O aluno poderia, a partir de seu smartphone, verificar qual a biblioteca mais próxima e assim realizar as atividades do curso com aquilo que a biblioteca viesse a oferecer. A biblioteca pode realmente se tornar uma espécie de “universidade do povo” hospedando cursos abertos ou em parcerias com empresas. Mas espere, podemos ir um pouco mais adiante!

Um professor poderia utilizar a biblioteca para criar o seu próprio curso e hospedá-lo em algum espaço virtual da biblioteca. Não seria necessário fazer um alto investimento na compra de um sistema como o Blackboard, por exemplo. Reunindo os esforços de equipe de TI, pedagogos, professores e bibliotecários, um sistema “caseiro” poderia ser criado e assim ser mais uma ferramenta de ensino, que desde a sua própria concepção já estaria transmitindo algum ensinamento a alunos da área de TI, por exemplo.

Jardim comunitário

Em alguns casos, a plataforma ou sistemea que a biblioteca oferece, tem pouco a ver com tecnologia. Em Cícero, Nova York, uma plataforma da biblioteca é construída do zero, literalmente. Meg Backus é bibliotecária na Biblioteca Pública de Northern Onondaga e está encarregada de desenvolver projetos voltados a aulas e eventos. Para desenvolvê-los, Meg ouve atentamente a comunidade que a biblioteca atende. Ela descobriu que a comunidade adora jardinagem e gostaria de saber mais sobre o assunto.

Ao invés de convidar jardineiros especialistas para uma palestra na biblioteca, Meg decidiu ir além. Ela convidou pessoas da própria comunidade que estivessem interessados em criar e manter um jardim que posteriormente foi chamado de LibraryFarm. O espaço que foi utilizado ficava exatamente ao lado da biblioteca: ele foi limpo e o solo preparado para o plantio. Cada pessoa ficou responsável por um pedaço do espaço, trazendo as sementes e realizando a sua própria atividade. Especialistas foram convidados para dar conselhos sobre manuseios, manutenção, dando dicas e apoio. O espaço cresceu rapidamente, inclusive se tornando uma pequena fazenda, que começou a dar alimentos para as feiras locais. O que se tornou como uma atividade simples de jardinagem, acabou recebendo lições sobre nutrição, alimentação saudável e outras. O quanto isso custou para a biblioteca? Somente a conta da água.

Reorganizando as pesquisas

Fui consultor de uma grande biblioteca focada em pesquisa acadêmica. Após uma reviravolta administrativa, onde o reitor foi demitido, a moral e motivação da equipe eram inexistentes. Um novo diretor para a biblioteca foi contratado com o intuito de trazer de volta à vida a biblioteca. Este diretor trouxe vários consultores (inclusive eu) com a meta de desenvolver um novo plano de trabalho que reorganizasse a equipe de bibliotecários, as funções e os processos.

A maioria das bibliotecas estão estruturadas em duas grandes seções: o serviço de referência e o serviço técnico. Chegando às estantes, manuseando os livros, realizando pesquisas, conversando com o bibliotecário, você está no serviço de referência. Realizando compras, catalogando, indexando, realizando a manutenção do catálogo, isso tudo se enquadra no serviço técnico. Este modelo de organização de bibliotecas em duas seções é tão prevalente que você o encontra na maioria das bibliotecas públicas e acadêmicas deste país. E o mesmo se diz quando se fala de países da Europa, África ou Ásia.

Por que o mesmo modelo em todo lugar? Parte disso vem da própria formação dos bibliotecários, ainda muito pensada na biblioteca como um local de livros. O serviço técnico é de onde livros vem e o de referência é de onde os livros saem. Mas é assim que funciona a sua comunidade? Será que este modelo vislumbra uma maior participação da comunidade?

Ao criar este novo plano, o diretor focou a atenção em seu principal público: pesquisadores. Um público formado por professores e alunos de diferentes níveis, da graduação ao pós-doutorado. Este diretor descobriu que a maioria dos pesquisadores precisa realizar uma vasta revisão de literatura no início de seus trabalhos. Precisam ter acesso a estudos anteriores, a novas teorias e conceitos. Nesta fase inicial, o modelo de biblioteca dividido em duas seções ainda faz sentido. À medida que o pesquisador avança em seu trabalho, este modelo começa a se quebrar.

Digamos que um pesquisador receba um financiamento externo para sua pesquisa, por exemplo. É cada vez mais evidente que os pesquisadores tornem público o modo como vem coletando dados, como os divulgam, como são tratados… enfim, tornar cada vez mais acessível e público as suas pesquisas faz parte das exigências das agências de fomento. As bibliotecas tem algumas formas de fazer isso que se encaixam no serviço técnico. Só que isto se quebra à medida que o próprio pesquisador também pode criar o seu espaço para disseminar a pesquisa.

A distinção entre o que a comunidade faz e o serviço técnico também fica turva quando analisamos o processo de ensino numa faculdade. O corpo docente traz para a sala de aula artigos, livros e outras mídias como ferramentas de suporte. Mas ele também cria o seu próprio material, as suas próprias estratégias. E como a biblioteca pode aproveitar de todo estes materiais que são produzidos e que ficam estocados em computadores pessoais?

Voltemos à biblioteca que me contratou como consultor. O diretor da biblioteca após este contexto do seu público, dispensou o modelo antigo e criou um baseado em duas seções: pesquisa e ensino. Todos os novos processos da biblioteca foram mapeados nestas novas atribuições e necessidades de pesquisadores professores e alunos.

A biblioteca neste caso se tornou uma plataforma humana para acelerar os objetivos estratégicos da universidade: melhores pesquisas e melhor ensino. Neste caso, a a comunidade pode acreditar mais na biblioteca. E se a biblioteca se incorporasse na sua comunidade?

eScience

Em 2001 Ellen Roche, uma técnica de laboratório de 24 anos de idade, entrou numa ensaio clínico na Universidade Johns Hopkins e Centro de Alergia. O objetivo era investigar como os pulmões reagiam a alguns componentes químicos. Os pesquisadores inalaram em Roche o hexamethonium. Ela foi a terceira voluntária do estudo. A primeira voluntária teve uma tosse leve que durou uma semana e a segunda voluntária não reagiu ao componente. Já Roche desenvolveu a leve tosse que foi piorando ao passar dos dias. No sexto dia após inalar o produto, ela foi internada em terapia intensiva e menos de um mês depois ela veio a óbito.

O que torna esta história ainda mais trágica é que a morte de Roche poderia ser evitada. Como parte de um ensaio clínico, o pesquisador primeiro precisou realizar uma revisão de literatura. Ele começou pesquisado estudos desde os anos 1960 até os dias atuais e não encontrou nada a respeito do hexamethonium. No entanto, se ele não tivesse se restringido aos estudos de 1960, teria encontrado estudos que ligam o produto a problemas respiratórios de 1950. Por conta da morte de Roche, hoje todas as pesquisas voltadas a drogas e produtos químicos na Hopkins, devem antes passar pela pesquisa apurada de um bibliotecário e de um farmacêutico. Um erro simples, mas fatal, que poderia ser evitado de maneira simples.

A história já é trágica e torna-se pior por conta da falta de informação que a levou a ocorrer. Isso nos faz retomar a discussão da infraestrutura de conhecimento, que está cada vez mais complexa e sempre crescendo. Os cientistas de hoje são confrontados por um número crescente de evidências em bases de dados, problemas complexos exigindo trabalho coletivo com cientistas de diferentes áreas. Vejamos o caso do estudo das partículas fundamentais do universo em desenvolvimento no Grande Colisor de Hádrons, na Europa.

O Grande Colisor de Hádrons é um corredor em círculo de complexos eletrônicos e poderosos ímãs, com quase 17 milhas de comprimento e que fica enterrado entre a Suíça e França. Ele tem a capacidade de acelerar partículas quase que na velocidade da luz e as esmaga precisamente em conjunto. Com esta explosão, estas partículas geram outras chamadas de quarks, mas a esperança é que se consiga chegar na chamada partícula de Deus, o bóson de Higgs que dá massa ao universo.

O Colisor levou mais de uma década para ser construído e custou aproximadamente 9 bilhões de dólares. Cientistas do mundo todo desejam trabalhar com ele, seja virtual ou pessoalmente. Para você ter noção do quão complexa pode ser a escala de pesquisa científica do Colisor, um experimento que o envolveu listou 3046 autores em um artigo.

Estas forças de larga escala e de grande volume de dados não se limita à Física. Pesquisadores de Humanas podem se debruçar em centenas de milhares de textos digitais para fundamentar suas pesquisas. Cientistas sociais analisam bilhões de páginas web e de atualizações nas mídias sociais buscando compreender o comportamento digital. Companhias farmacêuticas podem gerar milhões de possíveis combinações químicas.

Para ajudar a acelerar a ciência e evitar potenciais desastres provenientes do grande fluxo de informações, estes laboratórios de pesquisas estão contratando bibliotecários. Eles trabalham diretamente com os pesquisadores, principalmente organizando uma montanha de dados, construindo ferramentas e mecanismos de pesquisa cada vez mais eficientes. Eles correspondem à expectativa gerada pelos laboratórios e colaboram com a disseminação científica de suas conquistas.

Podemos ter uma bibliotecário focado para a necessidade de um tipo de comunidade. Ela vive dentro e fora da biblioteca, assim como os próprios bibliotecários. Indiferente o tipo do profissional, se trabalha numa escola ou numa empresa, o bibliotecário precisa em alguns momentos deixar seu local de trabalho e atuar junto da comunidade. Você bibliotecário, não deve esperar que todos vão à biblioteca, vá até eles, esteja onde eles estão.

Falei sobre os bibliotecários emergindo em sua comunidade, mas e o contrário?

Biblioteca Pública de Dallas

Mencionei há pouco que milhões de bibliotecas se dividem num modelo de duas seções: o serviço de referência e o serviço técnico. No espaço físico eles também são facilmente identificados e separados. E isso não é uma coincidência incrível. Por séculos é de natureza das bibliotecas deixar tudo organizado, normalizado. Muitos destes padrões tem uma raiz no regulamento da biblioteca ou até mesmo em alguma lei. Em Dallas, todas as bibliotecas foram construídas ou reformadas conforme um plano mestre.

Só que este plano tinha um problema. Ele traçava diretrizes sobre como todos os setores, móveis e balcões são dispostos em todas as bibliotecas. Ficou familiar a um McDonald’s, que não importa a qual você vá, sempre será semelhante encontrando o que quer rapidamente.

Corinne Hill, diretora da rede de bibliotecas de Dallas, percebeu isso no plano mestre e procurou melhorá-lo. Em bairros com uma grande comunidade de artistas, as bibliotecas passaram a ter espaços fixos para galerias de arte. Os livros ficavam ao redor da biblioteca e em seu centro, grandes mesas que proporcionavam o trabalho colaborativo.

Já na biblioteca central, que fica no centro de Dallas, ela criou no quinto andar do edifício um espaço de Negócios & Tecnologia, que ajudasse a empreendedores locais com a criação e desenvolvimento de seus empreendimentos. E ela foi além! Dentro da própria biblioteca, ela abriu espaços para que os empreendedores se instalassem para divulgar a até vender seus negócios em pequenas lojas ou escritórios. Assim, a comunidade foi incorporada dentro da biblioteca.

Este modelo não é único de Dallas. Na Biblioteca do Distrito de Ann Arbor há uma equipe de bibliotecários de produção, que trabalha diretamente com a comunidade na produção de novas ferramentas e projetos. Você tem uma ideia para criar um novo site? Esta equipe pode te ajudar. É o projeto de um vídeo? Chame os bibliotecários de produção. A biblioteca é um local para a comunidade criar.

Eli Neiburger, diretor associado para a Ann Arbor e que supervisiona esta equipe de bibliotecários produtores, me contou uma grande ideia. Um membro da comunidade chegou na biblioteca perguntando se poderiam colocar no catálogo os seus livros particulares para que outras pessoas pudessem emprestá-los. Ele não queria somente deixar os seus livros disponíveis, mas também espalhar a ideia para que outras pessoas fizessem o mesmo, inclusive com outros materiais. Da maneira como as bibliotecas funcionam, esta ideia é um pouco estranha, visto que estes livros sequer pertencem à biblioteca, não são de sua propriedade. Mas quando você pensa que a biblioteca deve servir como uma plataforma, que devem ser “da comunidade” ao invés de “para a comunidade”, esta ideia faz pleno sentido. E se resgatarmos um pouco da história das bibliotecas, é assim que muitas delas começaram, como um agrupamento de coleções pessoais.

Mas por que falamos somente de objetos? Por que não tornar a biblioteca como um local para compartilhar a própria comunidade? Bibliotecas ao redor do mundo estão começando a emprestar pessoas. Você já se deparou neste livro com os bibliotecários de produção de Ann Arbor, da impressão 3D em Fayeteville. Quem é especialista em algum assunto e que queira compartilhar o seu conhecimento, pode procurar a biblioteca para divulgar esta vontade. Na Europa existem agora as bibliotecas anti-preconceito. Nunca conversei com um muçulmano? Com um gay ou uma lésbica? Um latino? Um republicano? Agora você pode por meio da biblioteca que oferece um local cívico e seguro para estas conversas.

Bibliotecas como um local

Já falei antes sobre bibliotecas como instituições inspiradoras. Muitas bibliotecas são construídas mais como grandes monumentos do que exatamente como espaços funcionais. Não que isso seja de todo ruim, mas na verdade elas devem ser construídas para representar os mais audaciosos ideais das comunidades.

As bibliotecas podem ser inspiradoras, mas antes de tudo, funcionais. Muitas das bibliotecas construídas por Carnegie há mais de um século hoje se tornaram inflexíveis, impossibilitadas de aumentar o seu acervo ou propor novos serviços por conta do tamanho pequeno. Muitos bibliotecários se irritam com o trabalho de arquitetos que planejam uma biblioteca mais como uma obra de arte do que um espaço funcional.

Isso está mudando. Por quê? A resposta curta é a nova abordagem sobre bibliotecas (detalhada neste livro) e a Lei de Moore. Confundador da Intel, Gordon E. Moore afirmou que tanto o número de transistores em um computador dobraria a cada dois anos quanto o custo de colocar o mesmo número de transistores seria a metade. A Lei de Moore, como vem sendo chamada há mais de 40 anos, tem sido amplamente discutida para falar sobre como a tecnologia cresce rapidamente, mas seus valores acabam ficando pela metade. Eis um exemplo: um computador de 1982 pesa 100 vezes mais, é 500 vezes maior em volume, custa cerca de 10 vezes mais e trabalha 100 vezes mais lento do que o smartphone que você tem aí no seu bolso.

Este encolhimento proporcionado pela tecnologia tem trazido grandes efeitos. O primeiro é na concepção do espaço físico da biblioteca. Pilhas de recursos físicos agora podem ser compactados em um espaço menor, permitindo que sistemas robóticos os recuperem, como é o caso da Biblioteca Joe e Rika Manuseto na Universidade de Chicago. Os livros e outros itens físicos são armazenados em prateleiras subterrâneas de 50 pés de altura, recuperados por uma cúpula de vidro acima do solo. Hoje há novos materiais de construção que permitem à luz ambiente inundar o espaço tornando as bibliotecas mais convidativas e sustentáveis.

O segundo efeito impacta nos próprios bibliotecários. Agora eles podem deixar o edifício para trabalhar em outros locais facilitando a criação de conhecimento. Suas ferramentas de trabalho estão disponíveis em smartphones e tablets. Os bibliotecários podem trabalhar remotamente via mídias sociais, construindo também com outros especialistas novas ferramentas baseadas na web.

Aí você pode se perguntar: será que ainda precisamos da biblioteca física? A resposta vem da própria comunidade. Com a era digital, o espaço físico de trabalho do bibliotecário pode ser cada vez menor, entretanto, para que a comunidade trabalhe e crie, este espaço precisa existir e sempre crescer. As bibliotecas físicas estão se tornando o terceiro espaço.

A ideia de terceiro espaço é do sociólogo Ray Oldenburg. O primeiro espaço é onde você vive, sua casa. O segundo é onde você trabalha, seu escritório e o terceiro é onde você se sente parte da comunidade. Este terceiro espaço pode ser uma barbearia ou um bar. Na Europa, ele pode ser uma das tantas famosas praças que há por lá. O problema é que este terceiro espaço está desaparecendo. Mesmo as praças europeias estão sendo reconstruídas ou inviabilizando seu acesso por diferentes motivos. Nos Estados Unidos, muitos desses terceiros espaços são comerciais, como um shopping ou uma Starbucks. Só que sendo comerciais, estes espaços podem ser distorcidos por conta da regulamentação do local, não é um espaço plenamente livre.

Este conceito se aplica a todo as bibliotecas. As universidades estão percebendo que precisam oferecer mais que salas de aulas e dormitórios. Centros estudantis são bons, mas muitas vezes os alunos tem ido à biblioteca para usá-la como um local produtivo e social, mesmo porque a aprendizagem é uma atividade social. Bibliotecas empresariais são lugares interessantes que muitas vezes misturam colaboradores da empresa de diversos setores. Bibliotecas nacionais, como a do Congresso, tem ofertado bolsas de estudo para trazer pesquisadores do mundo todo para interagir com os funcionários do governo.

O conceito de biblioteca como espaço comunitário não é novo. Já falei sobre a Biblioteca da Alexandria, que foi construída com colunatas e salas para maximizar a interação entre os estudiosos. A tecnologia e um foco renovado sobre a comunidade são o que nos permite pensar melhor as bibliotecas para as comunidades.

Um edifício sozinho não pode fazer nada. Uma grande construção esteticamente bela não é o suficiente. Um espaço com muitos livros e mesas somente não faz com que a biblioteca se torne um espaço de criação. É preciso um compromisso da comunidade e um grupo de facilitadores dedicados a construir a transformação, tijolo por tijolo. Felizmente estes facilitadores existem e os chamamos de bibliotecários.

2 Replies to “6. Comunidades: a plataforma”

  1. Gosto da idéia de centros culturais com espaços para arte, oficinas de diversos assuntos, aulas e cursos (porque não?). E principalmente no pós – pandêmia, espaços culturais que agreguem informações as pessoas, público em geral é o que mais faz sentido!

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